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Lula e o mito da democracia eleitoral

Artigo de Leonardo Coutinho
A cada cinco anos, a Coreia do Norte realiza eleições. Na festa da democracia norte-coreana, 100% dos eleitores comparecem para votar. Algo extraordinário e singular, que se torna ainda mais fantástico e único depois da apuração. Os candidatos vencedores recebem algo próximo de 100% dos votos.
 
Ninguém ocupa um cargo eletivo na Coreia do Norte sem ser uma unanimidade. Sabe por quê? As cédulas eleitorais vêm com um nome apenas. Disputa é coisa de capitalista. No mundo perfeito da democracia norte-coreana, há o consenso. Somente neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez várias referências à (super) ocorrência de eleições na Venezuela para atestar que por lá existe uma democracia vibrante. Tão vibrante que os líderes não temem o escrutínio eleitoral.
 
Cuba, a ilha rebelde, também realiza eleições. Sendo assim, como chamar aquela ditadura de ditadura? Os arquivos das entrevistas das duas últimas eleições presidenciais no Brasil são ricos em mostrar como a esquerda brasileira usa as eleições como sinônimo de democracia. Lamento, mas não é.
 
Em Cuba, a idílica Cuba, as eleições são um palco no qual o povo é coadjuvante. Os cubanos têm que simplesmente escolher entre um candidato do Partido Comunista de Cuba e outro do Partido Comunista de Cuba, previamente indicados pelos dirigentes do Partido Comunista de Cuba. Esses delegados vão compor a Assembleia Nacional que elege o presidente. Na realidade, o verbo correto é validar.
 
 
Muita gente ficou chocada com uma declaração do presidente Lula em uma entrevista à Rádio Gaúcha, na qual ele definiu a democracia como um valor relativo, não apenas para defender o amigo Nicolás Maduro, mas para justificar o que a Venezuela se tornou. Para Lula, as ações de Maduro e seus comparsas são como uma democracia autóctone que expressa suas características únicas no ecossistema político, que, na cabeça do presidente brasileiro, é convenientemente fluído.
 
A presidente do PT tentou corrigir. Disse que democracia só é democracia quando social. Uma falsa dicotomia recorrente entre esquerdistas dos tempos da Guerra Fria, que perguntavam para gente faminta: “Vocês preferem o pão ou a liberdade?”.
 
Uma artimanha que pretendia ilustrar a velha imagem de que no comunismo tudo era de todos, enquanto no capitalismo alguns têm tudo e muitos não têm quase nada. Portanto, a supressão da liberdade seria um preço justo a ser pago para as coisas funcionarem bem e todos terem direito ao seu naco de “democracia social”. Um negócio tão sem pé nem cabeça que nunca conseguiu se comprovar na prática, mas que até hoje embala a alucinação de líderes políticos, acadêmicos e militantes.
 
A relativização da democracia não é um fato isolado. Lula vocalizou algo que já está sendo embutido no debate e na cabeça das pessoas há tempos. A tese de que não existe uma democracia, mas democracias. E que a democracia como patrimônio da humanidade, construída sob fundamentos que vêm desde a antiguidade e foram se ajustando ao longo de séculos, não serve para comportar “as novas formas de democracia”. O melhor exemplo disso é a jocosa “Democracia com características chinesas”.
 
Xi Jinping colocou seus diplomatas em campo para retrucar as críticas ao seu regime. Quis mostrar para o mundo livre que ninguém tem autoridade para falar em democracia. Portanto, ninguém pode impor o que é democracia. No Brasil, foram várias ocorrências de assédio conceitual. Em 2021, a ex-presidente Dilma Rousseff condenou as democracias ocidentais e disse que o futuro é a China. Um ano antes, os presidentes dos principais partidos políticos brasileiros se reuniram em um webinar para absorver o conceito chinês de democracia, em um dos eventos on-line mais surreais produzidos durante a pandemia de Covid-19.
 
Na abertura do 26º encontro do Foro de São Paulo, o presidente Lula relembrou quando barrou o desejo do então coronel golpista Hugo Chávez de participar do segundo encontro do Foro de São Paulo, em El Salvador, por Chávez ter sido um golpista. Lula relembra que Chávez tentou tomar o poder à força em 1992 em um golpe fracassado, que o levou para a prisão até 1994.
 
Algumas coisas chamam a atenção. Lula erra alguns detalhes. Diz que o evento do Foro de São Paulo em El Salvador era o segundo da história, sendo que na verdade era o sexto. Seria apenas uma bobagem, pois afinal já se passaram anos e ninguém é obrigado a se lembrar com precisão de datas e locais.
 
Mas a história que Lula conta, para atestar o espírito democrata do Foro de São Paulo, é uma falsificação. Assim que Chávez saiu da cadeia em 1994, um jato cubano pousou em Caracas e o levou para uma reunião pessoal com Fidel Castro, que o apadrinhou.
 
Ao contrário do que disse Lula, o golpista Hugo Chávez fez, sim, parte da sexta reunião do Foro de São Paulo, em San Salvador. O relato sobre a primeira participação do venezuelano na agremiação está registrado no livro “Foro de São Paulo: construindo a integração latino-americana e caribenha”, de autoria dos petistas Valter Pomar e Roberto Regalado. A obra foi publicada em 2013 pela Editora Fundação Perseu Abramo, que é do PT.
 
Lula manipula uma história para tentar mostrar uma face inventada do Foro.
 
O que aconteceu naquele ano foi o seguinte: Chávez não se contentava em não ser uma estrela. Queria fazer um dos seus longos discursos para o plenário do Foro. Algo que lhe foi negado, pois ninguém quis renunciar a seu tempo para cedê-lo para o venezuelano, que ainda não tinha sido alçado ao posto de estrela do esquerdismo latino-americano e mundial, ao direito de brilhar. Mas Chávez não ficou apagado. Ganhou de presente dos amigos guerrilheiros da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional o acesso à tribuna para discursar em uma das comissões do Foro.
 
A frouxidão de Lula com a história, com a democracia, com a moral reaparece impunemente, pois, como ele mesmo disse na já referida entrevista à Rádio Gaúcha, a democracia que ele gosta é a que o conduziu ao terceiro mandato. Para Lula, a tal democracia que ele usou para vencer foi um meio. Não o fim.
 
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